Abrimos o blog com as palavras da Ana Carboni, quem, entre outras coisas, é a Presidente da União de Ciclistas do Brasil.
Partindo da premissa de que o que acabou de acabar, o antigo normal mas o atual passado, colapsou por questões muito mais profundas do que a crises sanitária, proponho aproveitar este tempo fora, esta pandemia com ar de paréntesis, para pensar e construir outros futuros possíveis. E esta escrito em plural porque nao tem como ter um só: somos muites e bem distintes entre nós, então é importante ouvir e respeitar o lugar de fala e os projetos de cada voz. Não tem volta atrás nem tem como forçar antigos valores num novo cenário. E ainda bem, porque o que conheciamos como normal era bom pra unes pouques. Podemos, como indivídues sociais, criar um futuro possível baseado no benefício coletivo? Se o velho já morreu, o que tem que ser feito para o novo nascer? Lembrando que o que está acontecendo agora foi sonhado e construído no passado por gerações anteriores, o que podemos criar, como sociedade, para as próximas gerações?
Futuros possíveis é uma série de entrevistas com o intuito de entender as diferentes intenções, ouvir planos, sonhos, ideias e projetos. É, ante todo, uma proposta para refletir e se perguntar: o que queremos? para logo pensar cómo podemos tirar essas ideias do papel, juntes. Nossa primeira convidada é Ana Carboni e estas sao suas palavras:
-Por favor, apresente-se em poucas palavras.
Ana Carboni é ciclista, mãe e companheira. Presidente da União de Ciclistas do Brasil (UCB) e membro da rede Bike Anjo. Ciclo-ativista e entusiasta da bicicleta! Acredita no seu potencial transformador (individual e social).
-O que representa o momento atual para você?
Tenho refletido bastante sobre a minha relação com as pessoas e com o mundo. Acredito que essa deveria ser uma reflexão de todos. Como cada um de nós pode mudar? Como agir para que essas mudanças aconteçam de fato. Há alguns anos decidi que não compraria nada que não precisasse e faria isso de quem produzisse e não de alguma grande corporação. Não é ter menos, mas é chegar a um equilíbrio e não querer ter tudo. Busco uma vida saudável e sustentável. E luto para que mudanças sociais aconteçam.
-O que, do modelo antigo, pode ser resgatado para o futuro?
Na minha opinião, nada! Precisamos chegar num outro lugar de convívio, de relação com o próximo. É entender que a distribuição de renda é necessária, que eu vou ter menos para que todos tenham um pouco.
-O que deve morrer?
A desigualdade e o consumismo.
-O que deve nascer?
Sociedades igualitárias no acesso a renda, a saúde, a educação, a moradia, ao transporte.
-Num cenário utópico, como seria o futuro ideal?
Minha utopia é a igualdade social: oportunidades iguais e cidades resilientes - capazes de se adaptar. Sem ocupações irregulares, onde se tenha acesso a água e saneamento básico; governos comprometidos com uma urbanização sustentável, onde a gente tenha onde plantar e valorize o conhecimento das comunidades. Um lugar onde todos tenham acesso à educação, saúde, moradia, trabalho digno, e transporte.
-E na realidade, como seria um futuro possível?
Lançamos recentemente na UCB a campanha: Bicicleta para Futuros Possíveis. Acredito que um passo para chegar num futuro melhor seja incluir a bicicleta como sistema de transporte nas cidades. É um veículo barato, saudável e não poluente. Os benefícios para a saúde individual podem ser compartilhados por toda a sociedade; uma pessoa que pedale para o trabalho tem seis vezes menos chance de desenvolver doenças crônicas - isso tem impacto nos gastos com o Sistema Único de Saúde - SUS, por exemplo. Além disso, o uso da bicicleta reduz a emissão de poluentes e melhora a qualidade do ar. O impacto econômico é outro aspecto importante, a bicicleta é um modo de transporte economicamente acessível. Muitas pessoas deixam de estudar por falta de condições financeiras para se deslocar aos estudos, s uso da bicicleta pode facilitar o acesso à escola. Implantar medidas para estimular o uso de bicicletas como meio de transporte é um solução para futuros possíveis, que, na minha opinião, pode ser um caminho para o futuro utópico.
-O que deve ser feito no nível individual, coletivo e estatal para consegui-lo?
Penso que para mudar o todo, precisamos começar com nós mesmos. O que estamos fazendo como indivíduos para um futuro melhor? Precisamos refletir e agir. Mudar a maneira que nos relacionamos uns com os outros. Pensar em nossas escolhas e escolher diferente. A campanha que mencionei, apoia organizações locais/grupos/coletivos para que façam a incidência política para aumentar a infraestrutura para a bicicleta, para melhorar a fiscalização, os programas de sensibilização, entre outras ações. Estamos plantando uma semente e gostaria muito que brotasse e gerasse frutos e outras sementes.
-Qual pode ser o primeiro passo?
Individualmente? Abrace uma causa, mude seus hábitos, lute pelo que você acredita. Juntos podemos muito. Converse com as pessoas, faça contato, faça reuniões e coloque ideias em prática. Uma horta comunitária, um esquema de empréstimo de bicicleta, um coletivo de pessoas com um mesmo propósito: fazer e viver melhor. Passamos esse longo período longe das pessoas, quando isso tudo passar (e talvez demore um tempo ainda), precisamos não voltar para o que um dia foi, mas criar algo novo! Sou otimista e acredito que isso seja possível.
-Sua intenção: Quero que o futuro possível seja…mais igualitário, amoroso e fraterno. Com mais amor e menos motor!
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